Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros
Em setores de difícil eletrificação, por exemplo em termos de mobilidade, a nível do transporte marítimo e aéreo, os biocombustíveis líquidos e gasosos avançados são uma alternativa fundamental e que pode ter impacto muito rapidamente. Além disso, estes biocombustíveis (ex. biometano) podem também ser um importante reforço na descarbonização da mobilidade terrestre e uma aposta estratégica numa matriz energética diversificada, o que é um caminho evidente, pois para além do contributo ambiental pode também proporcionar um impacto económico de assinalar.
Os combustíveis fósseis representam ainda cerca de 90% da energia consumida pelo setor dos transportes, mas até 2040 esse panorama tem que se alterar completamente com a inclusão acelerada da eletricidade, hidrogénio e biocombustíveis a níveis elevados.
Em Portugal é sabido que a GALP está a efetuar uma grande alteração da sua refinaria de Sines. O investimento de 650 milhões € envolve dois projetos estruturantes: uma unidade de produção (270 mil ton/ano, arranque previsto em 2026, redução anual de 800 mil ton CO2 equivalente) de combustíveis SAF e HVO (aviação e transporte rodoviário) e uma unidade de produção de hidrogénio verde (capacidade instalada 100 MW, 15 mil ton/ano, substituição de 20% do hidrogénio “fóssil”, redução anual de 110 mil ton CO2 equivalente). Este investimento permite ainda a criação de 76 postos de trabalho diretos.
É também de referir outros projetos em desenvolvimento (P2X Europe e Navigator, Figueira da Foz, Setúbal e Matosinhos, 40 – 240 mil ton/ano) no domínio do hidrogénio e produção de e-fuels.
Segundo a ABA – Associação de Bioenergia Avançada, existem atualmente unidades de produção de biocombustíveis com capacidades entre 100 e 120 mil ton/ano, como as da PRIO em Aveiro, da Sovena em Palença, da Biovegetal em Alhandra, da Iberol em Sobrinho e da Torrejana em Lagar Novo. Existem outras unidades de menor escala: Valouro Diesel em Torres Vedras (50 mil ton/ano), BioAdvance na Figueira da Foz (35 mil ton/ano), Bioport em Baltar (30 mil ton/ano), MainBio em Guimarães (15 mil ton/ano) e GALP Enerfuel em Sines (26 mil ton/ano).
Torna-se assim evidente a descentralização da produção e é de assinalar que estas instalações têm sido fundamentais para abastecer o mercado nacional e permitir o cumprimento das metas existentes de incorporação de biocombustíveis nos combustíveis fósseis.
Também, desde 2020, se tem verificado a redução gradual de utilização de óleos vegetais convencionais (soja, colza) e o aumento correspondente de alternativas mais sustentáveis, como os óleos alimentares usados e outras matérias-primas e nomeadamente o contributo destas últimas nos últimos anos tem crescido muito.
Os biocombustíveis avançados e alternativos e o biometano têm vindo a ganhar uma progressiva importância na estratégia energética e climática nacional. Os Governos têm dado passos concretos em termos legislativos para robustecer e focar esta estratégia. A diretiva RED III (energias renováveis) reforça o compromisso da UE com a transição energética, estabelecendo metas que podem chegar a 45% de energia renovável no consumo final bruto de energia até 2030. Para a transposição desta diretiva foi constituído um grupo de trabalho para a sua concretização.
Segundo a Organização Metereológica Mundial, 2024 foi marcado por extremos climáticos sem precedentes. Foi o primeiro ano em que a temperatura média global ficou 1,5ºC acima da da era pré-industrial. Nesse ano registaram-se 150 catástrofes naturais. Ou seja, a crise climática está-se a intensificar.
Por isso, não temos escapatória, temos que agir! Algumas ações já estão a ser concretizadas, mas urge acelerar a implementação das medidas a tomar, embora sem perder o equilíbrio económico e social.




